quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Pai!


Hoje a saudade está com a força de um furacão!
O coração tá pequeno, tá dolorido.
Hoje as minhas lembranças são tão fortes e tão vivas que é como se  a qualquer momento ele pudesse aparecer dizendo: voltei e quero fazer parte disso aqui outra vez.
E todas essas lembranças trazem consigo questionamentos do tipo: porque ele não conheceu o Alberto? Porque ele não conheceu o Massimo? Essas pessoas tão maravilhosas que fazem parte das nossas vidashoje e que tenho certeza fariam ele muito, muito mais feliz do que ele foi.
Essas respostas eu não posso ter. 
Não nesse momento.
Hoje, pra coroar ainda mais essa saudade, recebi uma homenagem que a minha tia Áurea Celeste, sua irmã, fez para ele e que fala muito sobre tudo o que eu queria dizer.


UM SERESTEIRO NO CÉU

(Ao meu querido irmão Paulo Roberto Gomes)

Meu irmão partiu desta vida como pássaro que alça o maior de todos os seus vôos rumo ao infinito. Não consigo imagina-lo de outra maneira, embora a enorme saudade que me invade o coração ao lembra-lo.

Aliás, o nosso eterno compositor, o músico da família, deixa com sua partida uma vida marcada por lembranças inesquecíveis, onde o substantivo SAUDADE se confunde com outra centena de emoções.

Desde pequena o "mano Paulo" de alguma maneira sempre me representou saudade, pois que ele, um jovem adolescente sonhador saiu de Belém nos idos anos 60 com uma mochila nas costas rumo à capital federal em busca dos seus sonhos.

Para mim, ele representava um exemplo de orgulho e vitória. Nosso pai era incansável em cita-lo como paradigma para nós, os irmãos mais novos.

Tudo que sofreu durante esse difícil começo em uma cidade totalmente estranha, transformou-se em sucessivas conquistas no lugar que escolheu para fixar-se profissionalmente. Os sonhos transformaram-se em realidade, e ele, a seu modo, soube ser feliz.

Foi sob o ar do cerrado que construiu sua família, casou-se, teve filhos e netos, tornando-se respeitado e querido como músico de primeira grandeza e brilhante advogado.

Das melhores recordações de meu irmão que me vem à memória, as cartas recebidas quase que semanalmente, verdadeiros "jornais" recheados de fotografias, eram sempre uma surpresa agradável. Nelas, ele nos contava sobre o seu dia a dia, suas alegrias e tristezas, anexando fotos da família e de suas viagens e aventuras. Tudo preparado com esmero, irradiando carinho, e, como sempre, muita, muita saudade de Belém, dos parentes e amigos queridos que, embora a distância física, nunca saíram de seu pensamento.

Apesar de Brasília ser a cidade eleita para a construção de seu projeto de vida e de ter percorrido todo o país, em sua função de Assessor Jurídico da Infraero, jamais nenhum outro lugar conseguiu roubar-lhe o amor e a verdadeira paixão por Belém, sua terra natal, a qual decantou em verso e prosa através de inúmeras composições saudosas e apaixonadas. Até seu violão, companheiro inseparável de tantas serestas, como ele mesmo dizia, "só faz Belém, Belém, Belém, Belém, Belém...."

As melhores férias de minha vida passei justamente ao lado dele. Os meses de julho anunciavam sua chegada em nossa cidade e o primeiro local visitado era sempre nossa casa. Quantas vezes chegou de carro, altas horas da madrugada, após horas de viagem, fazendo uma enorme algazarra, acordando a vizinhança... Outras tantas, já ia passando pelo caminho, trazendo consigo um comboio de parentes e amigos numa verdadeira carreata, para completar a festa. E tudo se transformava em música e alegria, não obstante o cansaço de uma longa viagem, seguindo-se por dias, noites e madrugadas agradáveis de muitas composições inéditas trazidas na bagagem.

Mosqueiro, Algodoal, Marudá, Salvaterra...Ah, Salvaterra!...Quem as cantará com tamanha e apaixonada saudade?...

O filho ausente desta vez partiu para sempre. Mas, pra onde? Onde andará o menino levado, moleque travesso que corria descalço pelas areias quentes das praias do Marajó e tornou-se homem sério e responsável, sem perder o enorme coração bondoso? De que se ocupará agora o profissional sempre preocupado com a justiça, que primava pela retidão do caráter e o dever bem cumprido?

Em meu coração, meu irmão continuará a ser uma saudade. Como quando eu tinha cinco anos e ele se foi de perto de nós. Porém hoje, ele transformou-se em uma saudade diferente : imensurável, imensa, doída... pois não haverão mais as oportunidades de reencontra-lo a cada visita periódica a Belém.
Só resta o consolo e a certeza de que ele cumpriu sua missão terrena a contento. Tanto que Deus foi sábio e justo ao chama-lo de uma maneira tão misericordiosa - não padeceu, não agonizou, não sofreu.

Foi-se como um pássaro. O coração silenciou, enquanto seguia, sereno, ao encontro do Pai. Apenas isso. E agora, certamente, faz serenata lá no céu...


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É tudo!

















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